
Francisco César tem o direito de se candidatar a qualquer eleição, nomeadamente a próxima para a Assembleia da República. Ainda no plano dos direitos, tem legitimidade pessoal e cívica para procurar realizar uma carreira política, em nome do que achará ser o melhor para os Açores. Não se lhe deve, portanto, barrar essa possibilidade, seja a que título for, porque se não é aceitável que ele se prevaleça de qualquer prerrogativa, ainda que anacrónica, de natureza hereditária, também não se lhe pode recusar ambição por ser filho de quem é. Isto é a teoria.
A prática processa-se de outro modo. Numa altura em que o Partido Socialista passa por aquilo que qualquer força política vive na ressaca da perda do poder; quando a influência tutelar do pai de Francisco continua bem presente na hoste socialista; no momento em que o líder regional tem pela frente uma porta muito estreita que terá que transpor para se emancipar da dita influência, embora não se saiba ainda se vai a tempo; depois da proclamação “urbi et orbi” da renovação da lista para a Assembleia da República, a apresentação de uma candidatura encabeçada pela dupla César/Sérgio representa a claudicação total do PS-Açores.
Só há um motivo que explica esta estratégia, se é que se pode apelidar de estratega quem a concebeu: o desespero de causa, mas um desespero que não olha a meios para atingir os fins e tritura qualquer possibilidade de enveredar por outra solução, à custa de um aparelho domesticado. É óbvio o descalabro em que vivem os socialistas açorianos. Quando o navio se afunda, os ratos são os primeiros a pular fora.
Carlos César, o filho e quem ainda se pendura nas suas saias, estão fartos de saber que o respetivo capital político se encontra absolutamente deteriorado. A República é a boia de salvação, num mar que é preciso atravessar como se de um deserto se tratasse e, em vez de esperarem pela evolução das conjunturas, avessos que estão à entrega do poder que ainda lhes resta, tratam de garantir aquilo que ainda conseguem manter dominado.
Diz-se que a maior qualidade de um político é sua capacidade de previsão. Ora nem político seria necessário ser para concluir que o jovem Francisco deveria refrear os seus desejos de modo a que pudesse, mais tarde, surgir de cara lavada perante militantes e eleitores, já que o seu indisfarçável propósito é viver da política. Isto até me faz lembrar uma frase que meu pai proferia, em jeito de brincadeira: trabalha quem não sabe fazer outra coisa! Mudando “trabalho” por “fazer política”, esta divisa aplica-se ao caso vertente.
Portanto, em nome do povo dos Açores, que dirá ir defender em Lisboa, Francisco (e o pai), com a conivência ou a impotência de Cordeiro, ao que parece manso como o bicho, mantêm sujeito o partido. Sujeito, mas não em paz, pois, ainda ontem vi, pela primeira vez, no Facebook, três figuras gradas do PS-Açores verberarem a atitude de António Costa em relação a Eduardo Cabrita, coisa impensável no reino socialista! Pode ocorrer o efeito dominó…
Já escrevi que Carlos César saiu de cena na capital porque não lhe apararam o jogo e, como se sabe, lá fora, os senadores socialistas a até os Jovens Turcos do partido, não são bem daqueles de deitar água a pintos, ao contrário dos “yes men” de cá. Mas agora também se percebe melhor o seu afastamento. O que poucos entenderão é o desprendimento revelado pelo exercício do cargo de presidente honorário. Então se o posto lhe foi feito à medida, por quê extingui-lo já? Se assim for, fica provada essa inaudita asneira (a criação de um presidente honorário com usurpação de poderes) que nem um cabo de esquadra cometeria!
Por último: se era para renovar, por que é que Isabel Rodrigues e João Castro se mantêm na lista, acima e abaixo da linha de água? Cumpre-se a velha regra, comum a todos os partidos, segundo a qual a renovação é sempre feita para além dos lugares elegíveis. Conheço bem esse método, em que o meu antigo partido é useiro e vezeiro.
Sendo assim, que ficaram lá (na lista) a fazer a Isabel e o João? Então, foram bons para defender os Açores e o PS na Assembleia da República e agora, ainda por cima num mandato interrompido a meio, são secundarizados, para estender a passadeira vermelha aos baronetes do sistema? |X|
“Ave, Caesar, morituri te salutant” — “Salve, César, os que vão morrer saúdam-te.” Palavras que, segundo Suetónio, pronunciavam os gladiadores ao desfilar, antes do combate, por diante da tribuna imperial.