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Chega!

Assisti, com a máxima atenção, à conferência de imprensa do deputado regional José Pacheco, na manhã de hoje, pela televisão. Não tomei notas nem mais tarde revi a suas palavras, o que as novas tecnologias hoje permitiriam se fosse essa a minha predisposição. Apesar das dificuldades de memória que a idade já me impõe, ainda sou capaz, creio eu, de me recordar do essencial do que foi dito, até porque acho que o deputado se mostrou muito objetivo nas suas declarações.

Para ficar bem perante a maioria (relativa e pequena, com toda a certeza) das pessoas que possam ler este artigo teria que me insurgir contra José Pacheco. Fica bem zurzir no Chega e atribuir a este partido os maiores males de que a nossa democracia sofre e vai continuar a sofrer! Não vou fazer isso, porque nunca moldei a minha opinião às circunstâncias, embora corra o risco de ter que aturar um ou outro frequentador do Facebook armado em zelador de princípios ou a tentar “colar-me” a este partido, em relação ao qual sou um opositor sem concessões.

Outros, no lugar de José Pacheco, fariam a mesma coisa que ele está a fazer, isto é, aproveitar o capital político-eleitoral que o povo lhe deu. Olhem para Artur Lima e para Paulo Estêvão e comparem. E já nem falo do que está a ocorrer por trás da cortina, à margem do conhecimento dos açorianos.

O que José Pacheco disse – ele é que o afirmou e não qualquer comentador de meia-tigela interpretando as suas palavras, nem nenhum jornal à procura de uma manchete vendedora – foi que rasgou um acordo porque esse acordo não está a ser cumprido e tem que ser melhorado.

Isto acontece na altura do debate do plano e do orçamento do governo que é o momento certo para fazê-lo, pois será nesses documentos que terão que ser acolhidas as propostas que visam o seu aperfeiçoamento.

Redução do endividamento da região; decisão sobre o futuro da SATA; criação de um organismo que combata a corrupção; efetiva fiscalização da aplicação do Rendimento Social de Inserção (RSI); “emagrecimento” do governo, que eu entendo como a necessidade de dar mais competência e eficácia ao executivo. Ora, alguma destas questões, cuja solução o deputado José Pacheco quer calendarizar, vai contra o interesse regional?

Estou completamente de acordo que estas coisas sejam devidamente planeadas, calendarizadas, senão chegaremos ao fim do mandato e José Manuel Bolieiro, com a sua cansativa bonomia, dirá que não se pode fazer tudo de uma vez.

Além disto, o Chega vai propor um apoio para estimular a natalidade. Não comento o valor, porque não tenho dados suficientes para isso, mas lembro-me de, em plena campanha eleitoral, todos os partidos e todos os candidatos levaram as mãos à cabeça e, aqui-d’el rei, as nossas freguesias, as nossas ilhas, o nosso arquipélago, estão a despovoar-se! E também me lembro que o vice-presidente do governo já anunciou uma medida de apoio direto com vista ao auxílio dos idosos nas suas próprias casas, medida que reputo da maior importância e com grande alcance social, sob diversos aspectos. Haverá razões para aprovar este e rejeitar aquele apoio?

Portanto, vendo bem, o que o Chega e o deputado José Pacheco estão a fazer não é nada de extraordinário e não é nada que qualquer outro partido não fizesse.

No xadrez parlamentar regional, não o esqueçamos, existem várias combinações que permitem evitar uma crise política, isto é, que haja eleições pouco mais do que um ano depois das últimas.

Um exemplo simples: para evitar a crise política nacional que ocorre neste momento e que toda a gente disse que não deveria ter acontecido, teria bastado o PSD abster-se na votação do Orçamento do Estado.

Concluindo: o ónus da crise não pode nem deve ser atribuído aos partidos mais pequenos, que (quase) toda a gente quer diabolizar. Os maiores estão dispensados da sua quota parte para garantir a estabilidade que tanto pedem aos cidadãos aquando das eleições?

Qual a responsabilidade do PS perante uma crise açoriana?

O que acabo de dizer sobre o Chega, digo-o sobre a Iniciativa Liberal (IL). Quando Nuno Barata, o deputado IL dos Açores, pôs em causa o apoio ao plano e orçamento se a questão da SATA não fosse resolvida, ou, no mínimo, esclarecida, vi nessa atitude, não só coragem, como oportunidade política e sentido de Estado, pois os açorianos não podem continuar na ignorância sobre a forma como o seu dinheiro está a ser usado e, sobretudo, não podem ver o futuro dos seus filhos completamente posto em causa, que é o que vai acontecer enquanto a nossa companhia a aérea continuar a lançar dinheiro como se para um esgoto se tratasse. |X|