O meu/nosso direito de resposta

Tenho 50 anos e sendo filho e neto de fervorosos cristãos  passei por todo o trajecto catumenico, fui acólito e fui leitor nas missas no tempo do malogrado Padre Correia em Castelo Branco. Olhando para trás, sinto hoje que não o fui por vontade própria mas sim porque sentia da minha família o orgulho que por mim nutria naqueles momentos. Em abono da verdade já nessa altura, mesmo não havendo internet, netflix ou playstation, a Igreja não conseguia “conquistar”… não nos conseguia “conquistar”.

Não sou católico, optei por seguir outros credos, mas sempre apoiei e incentivei a minha filha a, pelo menos, concluir também o seu trajecto educativo cristão e seguir aquilo que o seu coração posteriormente lhe ditar.

A Maria fez o crisma especialmente e acima de tudo para, tal como eu, sentir tambem da família aqueles momentos de orgulho que fazem os olhos brilhar.

À Maria, a minha filha, foi dada então toda a liberdade de escolher a sua madrinha ou padrinho tendo a sua escolha recaído numa das pessoas mais idóneas e mais respeitadas não apenas em S. Roque, mas também e ainda em toda a ilha do Pico. O dia era dela… o dia era para ela e todos nós nos empenhamos para que tivesse um dia absolutamente memorável. Foi o que aconteceu… mas não pela melhores razões.

Neste meu/nosso direito de resposta tenho que discordar da classificação dada no seu artigo, quando refere mesmo no início: ” Rescaldo do debate” já que considero que não estamos de todo no rescaldo deste debate. Estamos sim apenas e só no seu início já que por um lado o mesmo não se poderá encerrar assim tão levianamente e por outro julgamos ser este o timing certo para “impôr” um novo, necessário e sério debate acerca da Igreja… acerca desta Igreja que teima em não se modernizar.

«Os crismandos falham porque a Igreja também falhou com eles.» Nada mais acertado. Aliás, creio ser mais ou menos consensual que a Igreja ja vem falhando há largos anos a esta parte. É mais ou menos consensual que a Igreja vive num estado profundamente “autista”, fechado na sua própria bolha, no seu próprio mundo e que teima em não se abrir. Teima em não se renovar. Teima em não se refundar sendo que o urgente e necessário debate teria de ser feito não apenas de forma interna, não apenas com os mesmos, não somente com os padres, bispos, beatos e beatas mas sim com a sociedade civil, com os jovens das mais variadas camadas e estratos. A mudança é necessária… a mudança é imperiosa e a não verificar-se temo que o desfecho esteja mais que traçado…. basta ir a qualquer igreja hoje em dia. São cada vez mais vazias… cada vez mais despojadas de emoções… cada vez mais locais de um culto que já não encontra eco no coração das pessoas comuns, onde tudo decorre exactamente da mesma forma que decorria há largas dezenas de anos… imutável… desinteressante!

«O Crisma não é a festa de graduação do finalista da catequese.» ou pelo menos assim não deveria sê-lo. Na prática é o que se verifica. Foi assim comigo, foi assim com a maioria dos que também o fizeram comigo e é o que se vai verificar já que nada mudou… ja que aparentemente nada irá mudar.

“A vida da fé não se resume somente à receção dos Sacramentes”, claro que não… e aqueles que os recebem são mais pessoas do que aqueles que não os recebem? Não haverá boas pessoas que nunca sequer os tenham recebido?

“O padrinho/madrinha é escolhido pelo crismando em razão do exemplo, das qualidades e da amizade e representa a Igreja junto dele” não constituirá um contrassenso com a “…situação moral e conjugal/familiar que esteja em conformidade com o ideal da vida cristã, por exemplo, quem vive em estado de “união de facto” ou “casamento civil”, não está em comunhão plena com as regras da vida em Igreja.”. Segundo esta ordem de ideias, muito própria e exclusiva da Igreja, não poderá haver um sem o outro e vice-versa.

“O que aconteceu teve uma causa, mas, em nenhum comentário li explicações dos dois lados para poder fazer um juízo válido. Mais uma vez sou levado a pensar que há aqui gato escondido com o rabo de fora.” Que me perdoe mas, concordando com o mesmo, acrescentarei ao seu comentário que há/houve muitas influências menos boas, quiçá mesmo menos idóneas, maldosas e mal intencionadas que acabaram por ser potenciadoras de tão tristes figuras preconizadas por aqueles cujo papel deveria ser tão unicamente o cativar, o reunir rebanhos e não desbarata-los, o atrair e não o afastar, o pacificar e nunca o incendiar ódios e animosidades. Sim… a Igreja, tem de se dizer… falhou em toda a linha. Falhou sobretudo com os jovens… falhou em toda a linha com esta jovem a quem não foi tido em conta o seu superior interesse e mais do que ter sido agredida foi vergonhosa e de forma totalmente inaceitável humilhada.

Assim, em suma, sou o pai de uma das agredidas e após o assumir da situação pela Igreja Açores, pressinto uma lamentável e triste tentativa de camuflar aquilo que se passou, uma tentativa de “absolver” os agressores so porque pertencem a uma classe e instituição que indubitavelmente, por força dos tempos modernos e por força de não se ter sabido modernizar e ajustar, já não tem o poder, nem a importância que para si tem reclamado… respeito sim, totalmente, mas afirmo que perderam a influência que tinham e em muito por culpa própria… é essa a sua, (instituição Igreja) “dor”… é essa a sua (instituição Igreja)”azia”.

Em todo este triste episódio porque passamos, em toda esta tentativa gratuita de humilhação publica nunca ninguém dessa tão “influente” instituição nos procurou para aferir, desculpar-se ou tentar mesmo até justificar o injustificável.

O mal está feito e assumido, é verdade, mas impõe agora que, sustentados pela humildade que apregoam, se apresentem publicamente com o mais que obrigatório pedido de desculpas às agredidas e com o assumir das necessárias consequências pelos seus tristes actos.

É este o momento certo para que a Igreja pare para pensar… é este o momento certo para mudarem de rumo… é este o momento certo para reverem a sua forma de abordagem perante a sociedade… é este o momento certo para se refundarem porque em abono da verdade a “Igreja é de todos, todos, todos.”

César Ferreira




Create a website or blog at WordPress.com