CAPELINHOS. «Fachos incandescentes subiram a mais de 400 metros»

CAPELINHOS. «Fachos incandescentes subiram a mais de 400 metros»

Diário do Vulcão

O tempo vai passando e o Vulcão dos Capelinhos, um dos maiores acontecimentos da história da ilha do Faial, apesar dos 50, 60 e, agora, 65 anos da erupção, parece que não se afasta. Continua bem presente na vida dos faialenses, através do testemunho real representado pelas suas cinzas acumuladas ao pé do Farol. Embora haja o perigo da erosão fazê-las desaparecer, ficará o Centro de Interpretação como legado para as gerações vindouras não o esquecerem. Hoje, felizmente, a memória do Vulcão é partilhada pelos mais novos, fruto de um conjunto de iniciativas que, com regularidade, vai cimentando um particular afeto que qualquer faialense sente pelo Vulcão. Na passagem do 65.º aniversário do início da erupção do Vulcão dos Capelinhos FAIAL GLOBAL faz o DIÁRIO DO VULCÃO, recordando o que, a partir do dia 27 de setembro de 1957, os dois jornais diários existentes no Faial naquela altura foram dizendo sobre o acontecimento.

SÁBADO, 5 DE OUTUBRO DE 1957 — 9.º DIA, HÁ 65 ANOS

O Telégrafo e o Correio da Horta saíram à rua em mais um dia com novidades relacionadas com a erupção, continuando a acompanhar “pari passu” os acontecimentos. O matutino já tinha anunciado que iria republicar alguns textos sobre o Vulcão (o interesse dos leitores pelo assunto e o facto de alguns edições terem esgotado justificava-o) e fê-lo na edição do dia 5 de outubro. O vespertino deu à estampa uma “local” (notícia relativa à localidade onde um jornal se publica) para informar que se esperava na Horta no dia daquela edição do jornal, a bordo do patrulha São Tomé, a já anunciada missão científica, a qual, além do respetivo chefe Orlando Ribeiro, era composta por «mais três cientistas, incluindo uma Senhora». Encontrariam à sua disposição, no Capelo – referiu o jornal – o palacete do «conceituado comerciante Sr. António Lucas da Silva», que tomou a iniciativa de colaborar na criação de condições de trabalho a quem chegava para tão importante tarefa.

150 MILHÕES DE TONELADAS DE LAVA

As notícias do Vulcão no exterior também tinham repercussão local. «Numa conferência à imprensa, e baseado na intensidade da erupção, na profundidade do mar e na área da ilhota formada, o Engenheiro António de Resende» calculou que «as lavas já expelidas pela cratera» teriam atingido 100 a 150 milhões de toneladas, reportou o Correio da Horta.

O Telégrafo, por sua vez, informava que a ilhota aumentara «especialmente na direcção Norte», parte onde já teria atingido 60 metros, em contraponto com «a zona Sul», que se apresentava «mais baixa».

Em título, na 1.ª página, citando o Diário Insular, o matutino faialense afirmava que «a chuva de cinzas» poderia «prejudicar as culturas nos terrenos mais próximos sem contudo afectar a população». Era uma referência a uma entrevista que Frederico Machado, encontrando-se em Angra do Heroísmo, dera ao periódico terceirense. A conversa com o «ilustre faialense» foi justificada com o facto de Frederico Machado se dedicar «ao estudo dos fenómenos sísmicos, tendo mesmo previsto com bastante antecedência uma certa actividade». O engenheiro disse, porém, numa atitude tranquilizadora, que: «nada» o fazia «suspeitar» que viesse a ocorrer «um período de perigo iminente para o Faial».

O Telégrafo insistiu no «prenúncio», a que o Correio da Horta se referira na véspera, «da fase efusiva com projecção de fragmentos de lava e não apenas cinzas e escórias», com base em informação sobre o Vulcão que José Agostinho transmitira ao Observatório Príncipe Alberto do Mónaco.

As fontes de informação (e a sua credibilidade) são uma peça fundamental no processo de pesquisa com vista à elaboração da notícia. Neste caso, percebe-se o circuito utilizado pelos jornais faialenses para obter os dados necessários para a notícia, que assentava no triângulo José Agostinho – Observatório Príncipe Alberto do Mónaco, onde pontificava Manuel Bernardo de Almada, chefe – Redações (de O Telégrafo e Correio da Horta).

HABITANTES MAIS CALMOS

No habitual acompanhamento descritivo das reações do Vulcão, o Telégrafo contou o seguinte: «A actividade do vulcão dos Capelinhos depois de dois períodos de forte violência na 5.ª feira, principalmente às 12 e 14 horas abrandou, seguindo-se uma relativa calma durante a madrugada de ontem. No entanto às 6.35 horas registou-se uma tremenda explosão que durou cerca de 30 minutos. Os fachos incandescentes subiram a mais de 400 metros. Entretanto verificou-se que a erupção está fazer-se pelas três primitivas bocas, sendo uma mais forte que as outras duas. O vento tem-se conservado de Sueste forte, afastando para o largo o perigo das cinzas. Parte dos habitantes que abandonaram as suas casas estão agora mais calmos e pensam em regressar à sua vida normal.»

O jornal fez ainda uma referência ao guarda-fios Manuel Lemos: «Em virtude das faíscas elétricas avariarem repetidamente as comunicações telefónicas, o sr. Manuel Lemos tem sido incansável em restabelecer as referidas comunicações.» |X|

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