
Sempre ouvi dizer que quem paga é quem manda. Por isso, cheira-me que esta liderança do lançamento do concurso é um presente envenenado.
A Câmara Municipal da Horta vai liderar o lançamento do concurso do projeto de execução para a ampliação da pista do Aeroporto da Horta.»
Ao fim da tarde de hoje a Câmara Municipal da Horta divulgou a informação acima citada. Despertou-me a curiosidade! Avidamente, li o texto completo para ficar a saber o que é que se alterou neste processo já que as mais recentes notícias indicavam que seria a NAV Portugal a tratar do assunto.
«O Presidente da Câmara assumiu hoje a disponibilidade do Município para o efeito, na reunião realizada no Ministério das Infraestruturas e da Habitação, em Lisboa, com o Ministro Pedro Nuno Santos e com o Secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Santos Mendes, tendo sido tomada a decisão entre ambas as partes», lê-se na nota informativa atrás mencionada.
Aguardo, assim, com expectativa, mas cético, os resultados desta mudança de mãos do processo. E porquê?
Por uma razão simples: todos nós sabemos que a maneira mais fácil de não resolver um problema é criar comissões para resolvê-lo e passar responsabilidades de uns para outros, ou seja, fazer o que está a ser feito em relação ao aumento da pista do Aeroporto da Horta. Dito de uma maneira que toda a gente percebe: andam a deitar-nos areia para os olhos!
O presidente da Câmara Municipal da Horta, quando era deputado e, depois, quando era candidato ao cargo que hoje ocupa, defendeu que o Governo dos Açores devia liderar este processo. Afirmou-o e insistiu. Agora, usa a mesma palavra: liderar.
A liderança do Governo dos Açores, entretanto, consubstanciou-se no anúncio da disponibilidade para financiar 40% do projeto e transformou-se na desresponsabilização sobre o investimento: quem pagará o projeto da ampliação é a NAV Portugal e quem mandará executar a obra será o Governo da República com financiamento de fundos da União Europeia – Berta Cabral, secretária regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas do Governo Regional dos Açores, disse-o preto no branco [ + AQUI ].
Perante este sentido dado ao verbo «liderar» o que é que se pode esperar do facto de a Câmara Municipal da Horta ir, agora, «liderar o lançamento do concurso do projeto de execução para a ampliação da pista»?
Aliás, eu gostava de saber que espécie de liderança da nossa Câmara Municipal é que vai ser assumida, pois o comunicado é completamente omisso nesse aspecto, o que, mais uma vez, demonstra a ligeireza – para não falar de propaganda política pura – como estes temas são trazidos para a opinião pública pelos serviços comunicacionais da autarquia.
O Senhor Presidente Carlos Ferreira vai sentar-se no seu gabinete e mandar bitaites para Lisboa para o Senhor Ministro Pedro Nuno Santos ou para o Presidente da NAV Portugal sobre os procedimentos do concurso?
Sempre ouvi dizer que quem paga é quem manda. Por isso, cheira-me – e peço desculpa pelo emprego do termo – que esta liderança do lançamento do concurso é um presente envenenado, pois só introduzirá demoras numa operação que urge.
Não tenho falado da capacidade política do Senhor Presidente da Câmara, por uma questão de delicadeza, mas, sou levado a dizer, abrindo uma exceção, que a superficialidade com que encara o papel de primeira figura do nosso concelho deixa muito a desejar, aceitando este rebuçado, ainda por cima amargo.
Ao regressar de Lisboa todo contente, o Senhor Presidente da Câmara demonstra que tem um entendimento errado do seu verdadeiro papel, que deveria ser o de manter-se numa posição de exigência reivindicativa perante os diversos poderes e interesses envolvidos em tão delicada matéria. Assim, como “líder” do processo de lançamento do concurso, está a assumir responsabilidades, a envolver-se em dificuldades e a perder espaço de manobra para defender a que é considerada a posição dos faialenses. Se correr mal, já está encontrado o bode expiatório.
Por outro lado, em política, ninguém entregaria ao adversário um papel importante numa ação que pudesse vir a ter sucesso. A ampliação da pista é garantia de êxito eleitoral. Quer o PS abrir caminho para que o PSD se mantenha em maioria na Câmara da Horta tantos anos quantos lá esteve?
Se estiver enganado, os factos tirar-me-ão a razão. |X|