Acompanhei, especialmente atento, como, talvez, uma parte substancial dos açorianos que se preocupam com a sua terra, a crise política gerada nos últimos dias a propósito das “agendas mobilizadoras” respeitantes à aplicação nos Açores do Plano de Recuperação e Resiliência (bazuca).
Acompanhei e quero continuar a acompanhar, pois presumo que a procissão, que já não vai no adro, não ficará por aqui.
Feitas as acusações e reconhecidos os erros; apresentadas as argumentações e contra-argumentações, não vou vou entrar no despique porque não disponho de informação suficiente para isso.
Interessa-me, no entanto, outra análise, de natureza política, porque, pela primeira vez, nem cedo, nem tarde, impende sobre o XIII Governo Regional dos Açores, cuja base de apoio é inédita na história da nossa autonomia e periclitante, uma autêntica espada de Dâmocles, verbalizada pelo deputado do (pequeno) PAN, Pedro Neves, no parlamento: “Não podem contar mais connosco!”
Como se explica que, perante um cenário político que se foi compondo nas últimas horas de forma clara e evidente, o presidente do governo, que se tornou um verdadeiro bombo da festa da opinião pública açoriana, se tenha, pura e simplesmente, eclipsado do debate parlamentar?
Como é que José Manuel Bolieiro vai sair desta? Era a pergunta que, provavelmente, milhares de açorianos fizeram até às 10 horas de hoje.
Os grandes estadistas não se revelam quando as coisas se apresentam de feição. Afirmam-se, principalmente, nos momentos de dificuldade.
Acusado, ao longo do último ano (e, até, anteriormente, por quem hoje lhe tributa vénias e ajuda a sustentar na liderança partidária e não só), de escassa capacidade de liderança, o presidente do PSD-Açores e presidente do governo, desaproveitou, de uma forma confrangedora, uma oportunidade de ouro para calar a censura e revelar a coragem política necessária para fazer acreditar que é capaz de levar a bom porto a missão que tem entre mãos.
Nem falo do vice-presidente do governo e presidente de um dos partidos que constitui um dos vértices da coligação governante (dizem que o mais perigoso, por não ter pejo em governar-se, se a oportunidade surgir). Artur Lima, confirmou, com a sua ausência, o indisfarçável oportunismo que, apesar de um escasso ano em funções, tem pautado a sua ação.
O que mais me custa, derivado da costela social-democrata que não consigo renegar, é ficar com a sensação de que, afinal, tudo isto continua a funcionar “à antiga”, com os mesmos métodos, a mesma fraqueza de espírito, a mesma falta de identificação com a realidade…
Continuam sem perceber quando é que a emenda é pior do que o soneto.
No plano local foi esta visão pequena, esta repetição de métodos arcaicos e desajustados, esta ilusão de querer tapar o sol com a peneira, como se o povo fosse ignorante, que me levou a afastar de um partido que, confirmo agora, é incapaz de reinventar-se e seguir em frente.
Repito o que já expressei dezenas de vezes: ganhar eleições não justifica tudo, muito menos “assaltar” ou querer manter o poder à custa de manobras, jogos de bastidores, favorecimentos, amiguismos, jeitos etc. (não me refiro só à bazuca, como é óbvio). Porém, quando se age por cobardia, não há remédio mesmo! |X|