São Morais, de seu nome completo Maria da Conceição Ribeiro de Morais. Antes de completar 21 anos entrou para a Polícia de Segurança Pública (PSP). 40 anos depois encontra-se na fase de pré-aposentação com uma certeza: “Não trocava [a Polícia] por nada. São tantas as histórias para contar e os bons momentos, que uma segunda vida na PSP só me ia trazer mais recordações“
A propósito do Dia Internacional da Mulher ESCREVI.BLOG entrevistou São Morais. A opção pela Polícia, o percurso, as diferenças, ou não, entre homens e mulheres na PSP, foram alguns dos temas abordados, bem como a sua experiência profissional numa terra pacata como a nossa ou na grande Lisboa, cujos problemas de segurança são incomparáveis com os da Horta.
Nascida no Faial, a 4 de dezembro de 1959, São Morais é agente principal da PSP na esquadra da ilha, onde reside.
— Quando é que lhe surgiu a ideia, pela primeira vez, de pertencer à PSP? Da amizade existente com a Fátima Brum, uma colega que entrou no 1.º Alistamento. Éramos amigas de longa data, uma pessoa com quem partilhava o meu dia-a-dia. Depois de ela se alistar eu comecei a interessar-me pelo trabalho que ela fazia, a forma como ela se fardava, as histórias que ela me contava e, assim que surgiu a oportunidade de me alistar, inscrevi-me no concurso e entrei. Lembro-me que éramos mais de 13 mil pessoas nesse ano e só entrámos 310.
— Já exerceu, ou teve em mente, outra profissão? Não, nunca exerci, nem tive em mente outra profissão porque quando se entra na Polícia não há como pensar em sair ou mudar de profissão. É uma rotina que nos preenche e uma profissão que fica para sempre.
— Se recomeçasse agora a sua vida entrava de novo na PSP? Claro que sim, não trocava por nada. São tantas as histórias para contar e os bons momentos, que uma segunda vida na PSP só me ia trazer mais recordações. Disso, não tenho dúvidas.

— Como é que correu o processo (candidatura, admissão, formação) até se tornar membro da Polícia? Começou por provas físicas, (corrida, saltos, flexões e barras), provas escritas (de português, matemática, geografia e história) e testes psicotécnicos. Depois fiz uma formação de novembro de 1980 a junho de 1981 em na Torres Novas [na fotografia, com direitos reservados, São Morais está na segunda fila e é a terceira a contar da direita] e regressei à Horta, onde fui colocada.
— Onde é que exerceu atividade policial? Os primeiros quatro anos foram cumpridos aqui na Horta. Em fevereiro de 1985, a meu pedido, fui transferida para a Divisão de Trânsito de Lisboa, onde permaneci 24 anos. Em 2009, como faltavam nove anos para terminar o meu percurso profissional, resolvi voltar ao Faial para terminar a carreira policial na terra a que chamo casa.
“A diferença de trabalhar num sítio completamente diferente onde as questões de segurança são também muito diferentes acaba por se tornar mais fácil, porque o simples facto de não conhecermos ninguém facilita o nosso trabalho.”
— Se o fez noutros locais, qual a diferença com a Horta, onde as questões de segurança são muito diferentes das localidades maiores? A diferença de trabalhar num sítio completamente diferente onde as questões de segurança são também muito diferentes acaba por se tornar mais fácil, porque o simples facto de não conhecermos ninguém facilita o nosso trabalho. No entanto, é mais arriscado. Em Lisboa quando mandava parar alguém não sabia o que me esperava, era sempre uma incógnita. Aqui no Faial conhecemos as pessoas, nasceram e cresceram connosco, por isso é muito mais difícil autuar pessoas que conhecemos, embora seja mais fácil prever o comportamento de algumas pessoas e enfrentar situações que nos são mais familiares.
— O que é que a satisfaz mais como polícia? Satisfaz-me o reconhecimento da população, a perceção de que tudo aquilo que fazemos é para o bem-estar e para a segurança de todos.
— Tendo em conta que um polícia pode ser sempre chamado a intervir numa situação que envolva perigo, isso representa para si um fator de “stress” no dia-a-dia? Claro que sim. Aqui no Faial isso não é tão notório, mas em Lisboa era uma constante. Mesmo trajando civilmente, podemos ser chamados em qualquer sítio (na rua, nos transportes públicos, em qualquer estabelecimento comercial), a qualquer momento do dia, porque não é possível passar-nos ao lado uma situação menos lícita, menos clara, mais conturbada…
“A ideia de que um polícia, só por si, impõe respeito, corresponde à verdade? Sim, sem dúvida. Por exemplo, quantas transgressões de trânsito são evitadas pelo simples facto de ali se encontrar um polícia?“
— A ideia de que um polícia, só por si, impõe respeito, corresponde à verdade? Sim, sem dúvida. Por exemplo, quantas transgressões de trânsito são evitadas pelo simples facto de ali se encontrar um polícia?
— Há diferença, perante o olhar da sociedade, entre uma mulher e um homem polícias? Já houve sim, diferença entre o homem polícia e a mulher. A mulher era poupada a certas intervenções por ser considerada frágil. Hoje em dia não, não há diferença nenhuma. Nunca senti que fosse diferenciada por ser mulher aos olhos da sociedade.
— No interior da instituição é indiferente ser mulher ou homem? Qualquer elemento da PSP tem os mesmos direitos, os mesmos deveres, aliás, temos um número mecanográfico que nos é atribuído logo no alistamento e nas escalas de serviço o que consta é o nosso número, não o nosso nome.
— Há missões que apenas um polícia do género masculino pode realizar, ou que apenas um polícia do género feminino o poderá fazer? Só em casos de revista. Se uma mulher tiver de ser revistada, nunca um polícia homem o pode fazer. Se, por exemplo, não estivesse nenhuma mulher de serviço, iam buscar a empregada de limpeza, por exemplo, para desempenhar essa função. Em tudo o resto as tarefas são atribuídas de forma igualitária.

— Ser polícia tem alguma coisa a ver com ter vocação para a função? Há quem nasça com o desejo de ser polícia e há quem está na profissão como pessoa que acaba por entrar, como eu, por influência de uma pessoa que já lá estava. Mas, depois de entrar, a vocação não é uma questão que se coloca em cima da mesa. Por questões de ética profissional, de conduta e de amor à camisola, acabamos sempre por desempenhar as funções de forma exímia que, com o tempo, se aperfeiçoa [na fotografia, com direitos reservados, São Morais em serviço na Horta].
— A classe dos polícias e as forças de segurança em geral são reconhecidas pela população e pelo Estado? Creio que sim. Embora haja muita gente que não suporta a Polícia, creio que somos um grupo valorizado porque nenhuma sociedade funciona sem a nossa presença. Desempenhamos funções de vigia, de apoio e de manutenção de uma sociedade segura, permitindo assim que haja um funcionamento pleno do quotidiano. Os cidadãos precisam de nós e vamos ao encontro dos seus direitos, permitindo que as pessoas se sintam seguras e respeitadas. |X|
|| SOUTO GONÇALVES texto | Fotografia de topo com direitos reservados
A São disse a verdade e sobretudo aquilo que 99,9% dos que tal como ela sentem, por terem cumprido com rigor, orgulho e determinação, as missões que lhes foram atribuídas, exercendo com isenção as funções policiais, dando sempre o seu melhor pela instituição. Obrigada pela coragem e atitude e já agora que goze a merecida reforma, com muita saúde e bem-estar, na companhia dos seus familiares.
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Foi um orgulho te conhecer e trabalhar contigo.
‘Partiste’ mas deixaste saudades!
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Gostei da entrevista. A “São” é uma mulher de grande estirpe! E jovem…
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Troquei a Políca pela aposentação. Só isso, O “Bichinho” entrou nunca mais sai, essa é a grande verdade.
Nunca me vi em outra profissão. Amor á farda e a tudo o que a envolve. Profissão nobre sem dúvida.
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Parabéns por esta brilhante entrevista cujos conteúdos me revejo totalmente. Também tive o prazer de passar por esta instituição e colher os mesmos valores e ensinamentos, partilhar vivências de amizade camaradagem inigualáveis.
Obrigada por este testemunho e muita saúde.
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O que mais gostei nesta entrevista foi “não trocava a Polícia por nada”, nem eu. Parabéns São, por tal como eu, não trocar estes 40 anos a servir o cidadão, por nada. Beijinho
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