Quatro partidos não foram ao debate do Pico: CDU, MPT, PAN e PPM. O Pico aparece, assim, como a ilha mais faltosa, a seguir ao Faial. O MPT ainda não apareceu em nenhum dos debates realizados respeitantes aos círculos em que concorre: Graciosa, Santa Maria, Faial e Pico. A questão que se põe é saber, afinal, quais as verdadeiras intenções dos partidos que se apresentam ao eleitorado e depois não comparecem para informar sobre os seus programa e propostas. Há nisto um desrespeito pelo cidadão eleitor.
Bem sei que as ausências não são todas pelas mesmas razões – e há-as atendíveis -, mas, na verdade, deveria haver uma forma de responsabilização dos faltosos, aplicando, quiçá, sanções.
Outra questão de algum modo relacionada com esta, ou seja, com a ética que deve pautar a atividade política, tem a ver com a pergunta com que o moderador abriu o debate do Pico, interrogando o candidato do PS, que hoje é o presidente da empresa pública que gere as infraestruturas portuárias dos Açores, a Portos dos Açores, sobre que opção tomaria após a mais que provável eleição e a expectável recondução na liderança naquela empresa.
É óbvio que, no plano legal, está tudo certo, como certo é que as candidaturas ao parlamento são feitas através de listas e qualquer membro que as compõe deve ser visto como potencial deputado, podendo-se operar substituições. Do ponto de vista político, porém, a abordagem a esta situação e a outras semelhantes, é muito oportuna. Por isso é que há quem designe este tipo de candidato como “postiço”.
Andou bem o jornalista Herberto Gomes, bastante mais incisivo nesta fase dos debates, ao tentar esclarecer o assunto à cabeça. Todavia, como seria de esperar, obteve a resposta politicamente (in)correta, que, como dizia o saudoso António Silva num clássico do cinema português, não adiantou nem atrasou, antes pelo contrário!
O debate do Pico terá sido, no panorama tranquilo em que tem decorrido esta iniciativa da RTP-Açores, aquele que mais se aproximou do “tête-à-tête”.
Miguel Costa (PS), como se esperava, foi metralhado a partir de várias frentes e equiparou-se, naturalmente, aos seus camaradas nos outros debates que têm sustentado as suas intervenções na obra feita e nas estatísticas.
Saúde e acessibilidades voltaram a ser temas preferidos, como noutras ilhas e os que opõem mais crispadamente os opositores.
O candidato do PS avançou com os números do crescimento do turismo, que não seriam atingíveis – frisou – se as acessibilidades ao Pico não tivessem melhorado.
Foi a deixa para o candidato do CDS, Tiago Cardoso, lembrar que tal crescimento é, precisamente, a prova da necessidade de aumentar o aeroporto.
Reconhecendo evolução no sector dos transportes, Tiago Cardoso lamentou, contudo, que tudo isso tenha acontecido, “mas devagarinho”, nos últimos 30 anos.
O candidato centrista desenhou um quadro encorajador da iniciativa privada na sua ilha (“que vale ouro”), acrescentando que as acessibilidades não podem cortar as pernas aos empresários.
José Carreira, candidato do BE e funcionário do partido, fortemente crítico e inquieto durante todo o debate, acusou o Governo de ter anunciado, em dois meses, obras para os três portos do Pico. E num ataque direto ao opositor socialista afirmou que a Portos dos Açores se assemelha a uma comissão de apoio à recandidatura de Miguel Costa.
Os momentos de maior tensão do programa foram, no entanto, protagonizados pelos representantes dos partido que, até agora, têm conseguido eleger deputados no Pico: PS e PSD.
O motivo foi o porto de São Roque, explicando Miguel Costa tratar-se de uma empreendimento complexo, equivalente a um prédio de 80 metros.
Marco Costa, do PSD, contrapôs com a necessidade de fazer a reconversão de toda a área do porto; Joaquim Coelho (Chega) lamentou que as obras comecem pelo telhado e José Carreira ironizou com a alegada dificuldade de construção da infraestrutura recordando que a ponte Vasco da Gama foi posta de pé em sete anos.
O deputado Marco Costa tinha lembrado que a questão do porto de São Roque anda em bolandas desde 2002. Admitiu que, conforme referiu Miguel Costa, a decisão política esteja tomada, mas realçou que as definições do ponto de vista técnico não. O terminal é caro, mas custa o mesmo que as SCUT de São Miguel, atalhou.
Uma questão que se mostrou consensual foi o atraso nas obras do Centro de Saúde das Lajes do Pico, há dois anos envolvidas em vicissitudes.
Estamos a falar da remodelação do centro de saúde onde nasci, em 1976, exclamou Tiago Cardoso, que, interrogado diretamente pelo moderador, sobre se se sente seguro no Pico do ponto de vista da saúde, afirmou que sim, porque tem sido saudável. Avisou, porém: olhem que não há milagres!
Já Marco Costa defendeu a construção de um centro de saúde novo, enquanto José Carreiras preferiu exemplificar o estado de saúde da Saúde do Pico com o facto de o aparelho de RX de São Roque ter mais de 24 anos e apenas custar 30 mil euros.
A visão mais realista das coisas foi levada às discussão pelo telegráfico candidato do Chega quando, pronunciando-se no início do debate sobre a fábrica de conservas da Madalena, sentenciou: a COFACO no Pico morreu!
Tiago Cardoso, também sem grandes eloquências, resumiu na sua declaração final a atitude dos presentes, que não é mais do que a identificação da imagem que têm os políticos na opinião pública: Somos todos bons a identificar os problemas, mas temos é que arregaçar as mangas!