Oúnico, à exceção do presidente, membro do Governo politicamente inamovível numa eventual vitória socialista a 25 de outubro próximo é o respetivo vice-presidente. Com mais ou menos rigor, maior ou menor fantasia daqueles que fazem análise política nos Açores ninguém nega a preponderância de Sérgio Ávila no aparelho do poder na Região Autónoma dos Açores.
Quase atabalhoado a falar, sovina quanto a sorrisos, é dado como um hábil manuseador de números. Rapidamente imagina-se-lo caldeado num qualquer gabinete em papel quadriculado e máquinas de fazer contas.
Meteu-se na política muito cedo. Há 25 anos foi eleito pelos Açores à Assembleia da República e um ano depois chamaram-no para a antecâmara do Governo como diretor regional. Ficou 13 meses para sair e ganhar a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo sucedendo ao carismático Joaquim Ponte. Antes de completar o segundo mandato autárquico Carlos César foi buscá-lo para seu vice-presidente no Governo Regional, procurando realçar o papel da ilha Terceira, cargo que mantém até hoje.
Data desse tempo a fama de que queria mandar no Governo e, desde que Vasco Cordeiro chegou à presidência, há quem afiance que também tem o proveito.
Quando alguém transporta consigo características especiais é normal ser distinguido com uma alcunha, mas não me lembro de nenhuma atribuída a algum membro do Governo dos Açores, a não ser o diminutivo por que é conhecido Sérgio Ávila, cujo valor é oposto ao seu sentido seu denotativo, ou seja, quem lhe chama “Serginho”, tentando amesquinhá-lo, está, certamente, pensando na sua enorme influência no PS e fora dele, já que a estatura para aqui não é chamada.
É natural, portanto, que tenha sido no debate da Terceira que, pela primeira vez na maratona iniciada no Corvo, a coisa tenha, quase, descambado, visto que a figura em causa marcou presença como cabeça-de-lista e, obviamente, acendeu a chama aos mais inquietos.
Coube ao candidato do Chega, como seria de esperar, a investida mais truculenta, ao ponto de outros adversário de Sérgio Ávila, em apartes, terem manifestado o seu repúdio às palavras de Orlando Lima.
Quando chegou a sua vez de falar o candidato do PS respondeu à altura: os ataques pessoais só desvalorizam as ideias de quem os faz!
Orlando Lima tinha sido cáustico: Quando o Sérgio Ávila abre a boca é uma provocação. Ele é o coveiro da Terceira, mas eu chamo-lhe Judas, pois prometeu a centralidade à Terceira e aconteceu o contrário!
Este foi o ponto alto da tensão que fez com que o debate da Terceira tenha sido um pouco mais acalorado do que os outros e o ponto baixo no que toca à urbanidade.
Entretanto, fiel a si próprio, o cabeça-de-lista do PS usou as estatísticas para responder às invetivas dos opositores, num registo “low profile” que manteve invariavelmente até ao fim.
A grande ausência foi a do cabeça-de-lista do PSD, António Ventura, a braços com a recusa do tribunal em aceitar a sua candidatura e que Herberto Gomes explicou mal dizendo que a norma invocada não tem força de lei, quando o que está carecido desse carácter, segundo o juiz de Angra, é uma pronúncia do Tribunal Constitucional sobre a matéria em causa.
De qualquer maneira, não se deu pela ausência do pretenso omnipresente Ventura (deputado lá fora, candidato cá dentro), pois Rui Espínola, que o substituiu, deu conta do recado, resumindo, aliás, todo o discurso das oposições: o empobrecimento da Terceira é um facto.
Finalmente houve um debate sem faltas. Marcaram presença onze candidatos, à exceção do MPT, que ainda não apareceu e na Terceira a respetiva candidatura foi rejeitada pelo tribunal.
Outro momento marcante do programa foi uma fala de Artur Lima (CDS), que esteve muito preocupado em atacar o BE, sabe-se lá porquê, mas talvez porque a bloquista Alexandra Manes se meteu com ele várias vezes.
Manes estranhou o tom crítico de Lima sobre o Governo vincando que foi o CDS quem votou ou se absteve na votação de planos e orçamentos na Assembleia. “O CDS é o partido que mais apoia o Governo”, disse.
O líder centrista dos Açores retorquiu que se alia a quem aceitar propostas suas para bem dos açorianos, lembrando, com um ar de irónica doçura, como é seu apanágio, as melhorias obtidas na área da Saúde.
Não ficou sem resposta porque Alexandra Manes recordou que o CDS não votou uma iniciativa do Bloco que pretendia que os idosos não tivessem que adiantar dinheiro para despesas de saúde.
O desempenho do líder do Aliança, Paulo Silva, foi parecido com a ideia de dar a volta à ilha Terceira com o carro a recuar: muita parra e pouca uva.
O candidato do PAN, Dinarte Pimentel, foi ao estúdio da RTP fazer uma sessão pedagógica sobre alimentação saudável.
Marco Rolo, do Livre, insistiu na aposta no sector cooperativo, não apenas nas áreas tradicionais, mas também no campo cultural, social e educativo.
O funcionário partidário António Fonseca, em reprsentação da CDU, colocou em cima da mesa algumas bandeiras comunistas: combate à exclusão social e à pobreza, vincando a defesa de um Serviço Regional de Saúde público e gratuito.
Tomás Dentinho, de regresso ao PPM, identificou a dívida da Região como o principal entrave ao desenvolvimento, insistindo que, por cada milhão de dívida, se perde, por ano, 60 empregos nos Açores.
Orlando Lima, que falou várias vezes da descontaminação, ou falta dela, associada à Base das Lajes, revelou que na população atingida por este flagelo os homens duram menos 10 anos e as mulheres menos 15. E rematou a sua participação no debate dizendo que “à máquina” de radioterapia do Hospital de Santo Espírito “já deve faltar peças!”
José Luís Parreira, candidato da Iniciativa Liberal, foi apostado em passar a sua mensagem sem concessões, focando-se em temas como a saúde (a possibilidade dos utentes escolherem o seu médico de família), a economia (baixa de impostos), ou a agricultura, com um discurso tendencialmente tecnicista em certos passos. Saiu-lhe a pergunta da noite: Quem é que manda na agricultura açoriana, o Governo ou o Jorge Rita com os seus interesses comerciais?
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