PADRE JÚLIO. CENTENÁRIO DO NASCIMENTO

Na sala Diogo de Silves, no Hotel do Canal, na cidade da Horta, neste sábado, 25 de maio de 2014, decorreu, pela manhã, uma sessão evocativa do 1.º centenário do nascimento de monsenhor Júlio da Rosa (Flamengos, 24-05-1924; Angústias, 13-11-2015).

A iniciativa pertenceu à Fundação Mater Dei, cujo presidente, Carlos Lobão, lembrou, na ocasião, « um vulto, uma personalidade, um espírito» que «iluminou esta cidadezinha mar a nível religioso, cultural e social».

O ponto principal da sessão foi uma conferência proferida pela coordenadora do Projeto de Investigação DIO-500 – História Religiosa dos Açores intitulada «Clero vs Clero: ecos da religiosidade açoriana no Século XX».

Susana Goulart da Costa disse que o padre Júlio da Rosa assumiu o papel de arauto dos ventos de mudança soprados pelo Concílio Vaticano II, dando como exemplo a arte sacra, cujo museu impulsionou. A historiadora afirmou que o sacerdote encarava a arte como uma forma de evangelização, o que demonstra – acrescentou – a sua identificação com a novidade conciliar.

A conferencista assinalou o facto de no ano de 1924 terem nascido, nos Açores, três personalidades que vieram a ganhar notoriedade no choque que se verificou, no seio da Igreja Católica, entre os simpatizantes do Concílio Vaticano II e os que resistiram à renovação.

Júlio da Rosa da Silveira faz parte desse trio, composto por José Enes e Cunha de Oliveira, estes dois dispensados do sacerdócio, precisamente por causa do choque pós-conciliar.

Estudos em Roma, que permitiram o contacto com o movimento que conduziu à realização do Concílio (iniciado em 1962), imbuíram José Enes e Cunha de Oliveira de duas ideias, que Susana Goulart da Costa traduziu do seguinte modo: o Evangelho é para viver, não para proclamar; é preciso mastigar antes de engolir.

O padre Júlio, ao contrário dos seus dois coetâneos, manteve-se no exercício do múnus sacerdotal, o que é atribuído à sua capacidade para jogar nos dois campos, segundo a apreciação de um faialense que tem observado o comportamento do clero na ilha do Faial.

Após a conferência no Hotel do Canal realizou-se uma visita guiada à sede da Fundação Mater Dei, criada a 8 de setembro de 1997 pelo padre Júlio da Rosa e que agora ostenta o seu nome. A sala principal da Fundação denomina-se António Narciso Sarmento, em homenagem a este antigo técnico do Museu da Horta, já falecido, que deu um valioso contributo à montagem, para exposição, das peças do espólio de monsenhor Júlio da Rosa, à guarda da Fundação.

Da visita resultou a compreensão de que se está perante um valiosíssimo museu, com artefactos de arte sacra, pinturas, testemunhos de honrarias atribuídas a monsenhor Júlio da Rosa, entre outras preciosidades.

Porém, conforme destacou um dos dirigentes da Fundação Mater Dei, Luís Prieto, o acervo mais significativo, ainda em fase de tratamento, é um conjunto de milhares de livros, publicações e outros documentos, guardados num amplo espaço, que pertenciam ao padre Júlio.

No seu final de vida, o sacerdote confidenciou a Luís Prieto que já não lhe sobrava tempo para organizar o seu legado documental, acreditando, porém, que alguém haveria de surgir empenhado nessa tarefa. Não se enganou! ✓




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